terça-feira, 23 de novembro de 2010

Rui Machado em entrevista ao Jornal Record

RECORD – Cumpriu o sonho da sua vida ao entrar no top 100 mundial?


RUI MACHADO – Mais importante que isso é passar a ter entrada direta nos grandes torneios como o Open da Austrália. É uma perspetiva diferente, uma pessoa sente-se num outro patamar. Integrar o top 100 mundial é estar dentro da elite. Na história do ténis houve muitos jogadores que tentaram essa abordagem, mas nunca o conseguiram. Estou feliz por isso.


R – Acha que tem condições para se manter na chamada elite ao longo da próxima temporada?

RM – Fiz a minha formação como jogador em Espanha e aprendi uma coisa desde muito novo. Ensinaram-me a ser ambicioso na vida e a não ter limites nos objetivos. Sei que a partir de agora sou uma referência, vou estar debaixo de olho por parte dos meus adversários, mas continuarei a ser a mesma pessoa e bastante exigente comigo mesmo. Obviamente... espero continuar a evoluir.


R – É normal admitir, todavia, que dentro dessa ambição é possível pensar no top 50?

RM – É uma tarefa difícil. Só por si chegar ao top 100 é algo ambicioso. O circuito está a mudar e cada vez é mais competitivo. Acredito que a luta irá ser ainda mais renhida e só prometo trabalhar para ir mais longe e ser um melhor jogador.


R – Como se sabe, o Frederico Gil é o jogador com o melhor ranking de sempre (66.º). Faz parte dos seus objetivos superar este registo?

RM – É sempre um motivo de orgulho quando um jogador progride no ranking por pouco que seja essa ascensão. É sinónimo de evolução. Se um dia isso acontecer ficarei satisfeito por isso, mas não é um caso de vida ou de morte. Ser o 65.º do Mundo é um bom lugar e sei que tenho confiança para quebrar barreiras. Não me esqueço que antes de me lesionar fui durante três anos o n.º 1 de Portugal e nesta geração fui o primeiro a obter pontos ATP com 17 anos. Limites é algo que não quero colocar na minha vida como profissional de ténis. Tenho 26 anos e não considero que a minha carreira esteja perto do fim.


R – A passagem por Espanha foi fundamental para fortalecer o seu caráter como jogador?

RM – Foi importante na medida em que nos ensinam muita coisa desde novos e ficamos, desde logo, esclarecidos do que é o mundo do ténis. O caminho em Espanha está desbravado. Qualquer jovem que se destaque sabe o que tem a fazer. Todas as conversas dos treinadores vão nesse sentido e há um grande interesse pelo ténis. Para um espanhol não tem qualquer significado chegar ao top 100, quando eles já tiveram grandes jogadores que foram n.º 1 do Mundo e conquistaram Grand Slams. A dinâmica é outra desde a base.


R – Foi a experiência e uma maior maturidade que o levaram, finalmente, a integrar o top 100 mundial?

RM – Agora consigo compreender e interpretar melhor o jogo, fruto da experiência, da maturidade e dos conselhos de pessoas que me são próximas. À medida que evoluímos também precisamos de ter um conhecimento melhor do que podemos fazer para desequilibrar os jogos a nosso favor. A evolução passa por aí.


R – Como avalia a atual situação do ténis em Portugal?

RM – Neste momento até estamos a atravessar uma boa fase. Portugal nunca teve dois jogadores em simultâneo no top 100 e essa meta foi conseguida. Há jogadores a fazerem uma forte aposta no profissionalismo.


R – O que sugere para melhorar?

RM – Quando se quer apontar soluções não nos podemos esquecer do que está para trás e não está resolvido. Faltam-nos maiores referências e existe um défice de cultura desportiva, isto para já não falar do eterno problema que é a conjugação dos horários escolares com o treino para o alto rendimento. Em Espanha, e neste particular, a situação é bem diferente. Quando estive em Barcelona frequentei uma escola só à tarde e com apenas 6 alunos para se poder conjugar os horários escolares com o treino. Éramos todos desportistas. E na mesma escola, numa turma mais avançada, andava o Guillermo Garcia-Lopez. Só assim é que se consegue ter disponibilidade para o treino. E são estas coisas que começam a ditar as diferenças nos escalões mais jovens. Quando se chega aos seniores é óbvio que as diferenças são ainda maiores e com reflexo na qualidade e quantidade de jogadores. Em Espanha já não se inventa nada. É tudo uma questão de empenho por parte do jogador e do treinador.


Fonte: Record online

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