domingo, 26 de dezembro de 2010

Rui Machado em entrevista ao Jornal Público

É o melhor tenista português da actualidade. O facto não é inédito para Rui Machado, mas estar, desde Outubro, entre os cem melhores do mundo é uma novidade para o jogador que nasceu há 26 anos, em Faro. Depois de ter estado praticamente um ano parado devido a uma persistente lesão num joelho, Rui Machado subiu, em três anos, das profundezas do ranking para o 93.º lugar, o que lhe vai permitir entrar directamente em muitos dos grandes torneios do ATP World Tour.




Como define a época de 2010?



Considero que é a minha melhor de sempre porque entrei no top 100 que era um objectivo de carreira. Mas foi uma época irregular, um início bom e um fim muito bom, mas a meio não estive na melhor forma, alguma crise de confiança.



Quais os momentos mais marcantes da época?



Foram três: ganhar o challenger de Nápoles [em Abril], onde joguei o meu melhor ténis até hoje; o Estoril Open, onde houve um misto de um resultado muito positivo com uma derrota nos quartos-de-final que deixou algumas marcas, porque perdi sem poder estar no meu melhor, devido a problemas físicos; e, depois, as duas semanas na América do Sul (a vitória em Assunção e as meias-finais em Santiago do Chile, ambos challengers), que me garantiram a entrada no top 100.



Que marcas deixou a derrota no Estoril Open [diante de Frederico Gil, por 4-6, 7-6, 6-3]?



É o meu melhor resultado em torneios ATP, mas, ao mesmo tempo, foi uma frustração enorme jogar em Portugal, no mais importante torneio português, diante do nosso público, amigos e família e não poder estar na melhor forma. Gostaria que me tivesse influenciado menos e demorou a ultrapassar.



O facto de defrontar o Frederico, com quem disputa o estatuto de melhor português, também afectou a exibição?



Há sempre uma rivalidade. Em Espanha, onde estive sete anos, fui educado tenisticamente a desvalorizar as rivalidades e a dar mais importância ao ranking mundial. Mas claro que estavam a jogar o número um com o número dois do nosso país, é sempre um encontro que queremos ganhar, não deixa indiferente qualquer atleta.



Quando, em Agosto, tomou a opção de deixar o grupo orientado por João Cunha e Silva e contratar um treinador a tempo inteiro, o Bernardo Mota, ainda acreditava na entrada no top 100?



Não mudei por causa dos resultados não serem o que eu queria, mas talvez possam ter ajudado a que não me sentisse cómodo. Queria um acompanhamento mais personalizado e achei que era a altura para fazer esta aposta. Na realidade, foi um empurrão para ir buscar mais motivação.



Tem a imagem de um tenista emocional no court. É um ponto fraco ou forte?



Li há pouco tempo, numa revista, uma frase de um filósofo que dizia qualquer coisa como "os defeitos eram aquilo que sustentavam as nossas virtudes". Se for bem canalizado, joga a meu favor e tenho trabalhado nisso e cada vez mais tenho o controlo da situação.



Que aspectos tem treinado mais na preparação para a nova época?



Estou a trabalhar com algumas diferenças, a dar muita importância ao físico, com duas sessões diárias. Sempre gostei de me sentir forte (sorrisos). No court... mais horas era difícil, mas temos feito treinos mais personalizados, à minha medida.



Quais as expectativas para 2011?



Sei que vai ser um ano um pouco diferente, até porque vou começar por disputar torneios ATP e vou entrar directamente no Open da Austrália, os desafios vão ser mais difíceis mas também vou ter mais oportunidades para ter melhores resultados. Estou na expectativa de ver como correm estes primeiros dois meses, para ver se vou poder continuar a entrar directamente nos torneios ATP ou se vou ter que intercalar alguns challengers. O meu objectivo é manter-me no top 100 e estabilizar-me nos torneios ATP, o que é bastante ambicioso.



A selecção da Taça Davis subiu este ano ao Grupo 1. Que balanço faz da campanha 2010?



Foi bom, ganhámos as três eliminatórias, em que éramos favoritos e jogámos sempre em casa. Penso que esta é a melhor equipa de sempre, pelo menos em termos de rankings individuais, e este Grupo I é a nossa liga.



Sente mais pressão na selecção?



Pressão não, responsabilidade sim. É mais fácil quando jogamos em casa, embora ainda não tenhamos conseguido encher o estádio. Gostava de levar essa memória quando acabasse a carreira.



Pensa que os resultados dos tenistas portugueses da sua geração podem levar mais pessoas a jogar ténis?



Sempre senti que os meus resultados ajudam ao desenvolvimento da modalidade. Defendo-a mais sendo o número um agora do que quando era número um durante três anos e estava em Espanha. Era uma referência mas era um atestado que não se podia trabalhar em Portugal e estava a dar razão àqueles que não acreditavam. Foi uma opção minha, que correu bem, mas sempre disse que em Portugal havia bons treinadores.



Fonte: Público.pt

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